Em 2010 escrevi sobre a Copa do Mundo que acontecia na África do Sul, no intuito de denunciar aos brasileiros todo o esquema de politicagem, segregação e injustiças que circunda o evento da FIFA. Na época fiz panfletos com meu texto que distribuí em alguns eventos em Brasília, principalmente na UnB. Lembro-me que a maior parte das pessoas ao se depararem com o que eu expunha sobre a Copa zombava, fazia piada e me via como um "anti-futebol", "anti-diversão", "anti-qualquer-coisa".
Quatro anos depois, quando vejo todos aqueles fantasmas sobre os quais escrevi baterem à porta e se estabelecerem no Brasil, percebo que aquele panfleto se torna horrendamente atual. Os mesmos crimes, desperdícios, mentiras e despejos. Ouso acreditar que muitos do que zombavam do que eu disse sobre a África do Sul estão por aí protestando "Não vai ter Copa!". Mas vai sim. Porque enquanto povo brasileiro somos manipuláveis, insensíveis, passivos e esquecíveis.
Segue o texto original de 2010:
Um esporte que começou como diversão da classe trabalhadora se tornou um negócio que rende lucros exorbitantes para um pequeno grupo de elite mundial e nacional. Enquanto o planeta se entretém com a copa, quem paga de fato por todo o glamour, toda a estrutura e todo o jogo de mentiras mascarado como cultura é o povo da áfrica do sul. Banidos para campos de concentração, para longe dos olhos dos turistas, carecem de comida, saúde, educação, segurança.
Mesmo assim, o governo sul-africano apresenta cinicamente este momento ao povo como uma oportunidade única para a melhoria da situação econômica e social das pessoas que vivem no país. Reflexo dos interesses da elite dirigente do país, que justifica com um ar de patriotismo os gastos de mais de 8 bilhões de rands nos preparativos para a copa. A população é impulsionada pela mídia a entrar na febre do evento, estudantes são forçados a vestir a camisa da seleção, carros recebem bandeiras, mascotes são disseminados como uma febre e quem se atreve a manifestar dúvidas sobre a Copa é maculado como antipatriota. Greves e protestos são proibidos em nome do "interesse nacional".
A FIFA, prevendo com a Copa 2010 um lucro de aproximadamente 1,5 bilhões de euros, já arrecadou mais de 1 bilhão apenas com os direitos de transmissão televisiva. Os estádios e as zonas circudantes, incluindo estradas, foram entregues à corporação durante o período como casulos livres de impostos. Nessas áreas, a FIFA fiscaliza e proíbe atividades de comerciantes locais, deixando de fora aqueles que acreditavam que iriam aumentar sua renda com os jogos. Os jornalistas credenciados também são impedidos contratualmente pela FIFA de criticá-la, comprometendo claramente a liberdade de imprensa.
O futebol negócio e a Copa do Mundo trarão lucros exorbitantes para um pequeno grupo da elite mundial e nacional (com milhões de gastos desnecessários), que cobram aos seus clientes-torcedores milhares de rands, dólares, libras, euros, etc., para assistirem jogadores caindo e mergulhando em campos super bem tratados e que discutem, através dos seus agentes, se são ou não dignos de seus salários mirabolantes. O jogo em si, que em muitos aspectos, mantém a sua beleza estética, perdeu a sua alma trabalhadora e foi reduzido a uma série de produtos destinados a serem explorados e consumidos. Bakunin disse que "as pessoas vão à igreja pelos mesmos motivos que vão a um bar: para hostilizar, para esquecer a sua miséria, para imaginar serem, por alguns minutos, também, livres e felizes". Talvez possamos dizer o mesmo do futebol negócio, com estas bandeiras nacionalistas agitadas e a sua cegueira, com as estridentes vuvuzelas.
Com informações da Frente Anarquista Comunista Zalalaza (ZACF).